segunda-feira, 13 de julho de 2009

Piscadela interrompida

Uma coisa que costumava me incomodar era piscar. Sempre perdi brincando de sério, sempre considerei de um mau gosto cumprimentar alguém com piscadela. Até que no filme ótimo que passava na tevê, o garoto piscou o olho direito para a menina depois de um comentário bem-sucedido. Combinou, achei ótimo. Por dias fiquei procurando o momento certo para piscar para alguém, até que a Bárbara lançou um comentário bem-sucedido enquanto eu me ajeitava deitado na canga. Pisquei o olho direito, mas eu estava de óculos escuros.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Adoro gente burra

Eu adoro gente burra. Gente burra adora falar sobre o que não sabe, como se soubesse. Tem gente que reclama. Tem outras que apontam e riem. Conheço uns que ignoram e viram as costas. Eu não. Eu a-do-ro gente burra. Deixo falar o quanto quiser e, com um sorriso no canto da boca, delicio a minha superioridade.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Maria

Maria é uma estudante de arquitetura tímida que insere elementos fálicos em seus projetos. À noite, Maria é puta de luxo por opção, decisão tomada depois que soube que seus três ex-namorados eram gays. Hoje, dois deles namoram. Maria é muito parecida com Sandy, a cantora. Maria também canta, mas sua voz é bem diferente à da Sandy. Maria está apaixonada por um barman chamado Samir. Samir é muito parecido com Gael, o ator. Maria fez uma música de amor para Samir chamada “The nicest thing”. Samir era especialista em drinks inflamáveis. Samir morreu queimado. Maria foi ao enterro e conheceu Heitor. Maria se apaixonou por Heitor. Heitor era namorado de Samir.

ensaio sobre a ansiedade

Às vezes me dá vontade de saber escrever sobre a minha tristeza. Não é que eu ande triste, mas quando ela vem, chega sem aviso. Me pega nu, sem armadura. Bate na cabeça, que reflete na mão.
Mas só o que as minhas mãos conseguem fazer é rabiscar as páginas, esperando impacientes pelo surgimento de uma frase impactante o suficiente para me satisfazer. São rabiscos cardíacos, que acompanham batimentos que dispensam estetoscópio para serem escutados.
Escutei os meus batimentos porque a minha mão se inquietou porque lembrei de você, e de inquieta, não soube mais escrever e segui marcando os batimentos de dentro de mim.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Pensando em você

Cansado do meu nada pra fazer, resolvi pensar e acabei pensando em você. O meu olhar estava fixo no filme ruim que passava na televisão, mas desse filme não captei nada. Minha cabeça deu pra estagnar em você. Pensei, pensei um pouco mais e daí pensei: desinteressante. Mudei de canal.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

A maior perda

Acho que a vida toda eu lamentei pelo que perdia pelo caminho. Há diferentes formas de perder alguma coisa e diferentes maneiras de lamentar por essas perdas. Vou explicar: perder pode ser tomar sumiço, ser roubado, sofrer rejeição, morrer. Você pode perder um aparelho de dente, um casaco da Adidas, o último game da partida de tênis, um amor, um filho. Pois bem, já perdi tudo isso, com exceção de um filho porque não tenho filho nenhum e, se um dia tiver, espero não perder. Mas enfim, me lembro muito bem de quando eu tinha uns nove anos e perdi o aparelho móvel de dente depois de um almoço com a minha família. Eu chorava como se alguém tivesse morrido. Não que eu adorasse usar o aparelho, pelo contrário, eu detestava. Só que com aquela perda, me bateu um desespero que hoje eu considero engraçado, palavra que certamente não era a que eu escolheria pra definir a minha sensação na época. Anos depois foi que descobri como era chorar por perder alguém, e é sacal demais dizer que foi uma experiência muito mais intensa. Foi. Eu tinha recém-completos dezessete anos, e ela se foi horas depois da nossa última conversa no celular. Não tenho dúvidas de que essa foi a minha maior perda, e como eu lamentei! Hoje, considero que, de todas as perdas, a morte é a mais fácil de se lidar. Em todos os outros casos há sempre uma esperançazinha entulhada no fundo da cabeça que te faz acreditar que há chance de recuperar o que foi perdido. O homem que perde todo o dinheiro e deixa sua família na miséria acredita que pode recuperar tudo com o trabalho, ou, se for um preguiçoso, com a ajuda dos outros. Uma mulher apaixonada que o marido abandonou e foi morar com outra (muito mais jovem e mais bonita) continua com a idéia de que o seu homem pode voltar – ele já gostou dela antes, porque não? O dinheiro ainda está aí, o marido ainda está aí – tudo é recuperável enquanto existe, é o que pensamos e é o que nos faz ficar mal. Com a morte, não. A pessoa se vai, não tem volta, o que nos resta é conformação. É um pouco pretensão minha achar que com uns vinte, poucos anos depois da nossa última conversa no celular, sou super conformado com perdas. Mas eu sou pretensioso, me conformo fácil sim. Tem vezes que me considero até um pouco frio demais, inabalável. Aí é que outra vez eu perco aquilo que eu gostava tanto. No ato, o controle escapa e vejo que, de frieza, eu não tenho nada. Daí passa.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O cabelo da Amy Winehouse

Tô com vontade de escrever, mas não sei sobre o quê. Escrevi uma besteira, apaguei. Escrevi uma bobagem, apaguei. A idéia mais desenvolvida que pus no Word era sobre uma velha que não saía de casa há anos, e, quando sai, é assaltada por uma gangue de mulheres que usam peruca de Amy Winehouse. A velha iria ficar assustadíssima, mas não ficou. Ficaria, se eu tivesse chegado a escrever essa parte. Apaguei antes de me irritar. Fazia piadas comigo mesmo sobre o texto. Piadas infames, como “essa história é cabeluda, heim”. Fiquei rindo sozinho, parei, me recompus, Crtl T, delete. Me irrito fácil com minhas idéias, me arrependo rápido das minhas piadas. Não tô a fim de me irritar, tô a fim de escrever. Tava até gostando dessa coisa toda da peruca, tava com vontade de escrever. Eu já disse isso. Enfim, o fato é que tô meio sem saco de tornar essa história interessante e crível. Se continuasse, ia acabar sendo somente um conto nem-tão-criativo e nonsense. E de nonsense, já bastam as pessoas em volta de mim. Tudo bem que as pessoas em volta de mim não são o ponto central desse texto. Tudo bem também que elas não são nonsense ao ponto de andar com peruca de Amy Winehouse por aí. Ok, algumas ocasionalmente andam. Mas esse também não é o ponto. O ponto é que não consigo fazer uma ficção decente há litros, e já cansei de escrever sobre crise de idéias. Tenho que mudar meus temas, eu acho. Por isso a Amy Winehouse. Na verdade, não escrevi história nenhuma sobre velha que sai de casa e é assaltada por moças de peruca. Eu só queria variar um pouco. Fora que eu sempre quis citar a Amy em algum dos meus textos. E isso é mentira. Não a parte que eu sempre quis citar a Amy em algum dos meus textos, eu sempre quis. É que eu escrevi a história sim, mas pensei que esse final revelador em que tudo era uma farsa seria divertido. Mudei de idéia.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Enfim...

O dia já não é mais dia, é noite. Mais uma vez, sinto como se não tivesse feito nada. Acordei, fui à PUC, assisti a três aulas sonolentas, voltei pra casa, baixei um programa de remixagem, baixei músicas indianas, tentei remixá-las. Falhei. Minha irmã disse que ficou péssimo, fiquei triste, eu sou péssimo remixador, depois fiz uma passagem muito legal, não sou péssimo, tava zero triste. Já são quase sete da noite, segunda-feira, quero ir pra uma festa que vai ter em Botafogo. Botafogo é longe, amanhã cedo tenho aula, já passei o dia todo com sono, se eu for, o hoje vai se refletir em amanhã, vou acordar, assistir a três aulas sonolentas, remixar mais músicas, provavelmente não mais as indianas que não agüento mais ouvir. Twittaram da festa, todo mundo vai pra festa, acho que vou, penso no banho, penso na roupa, penso nas aulas sonolentas. Eu faço comunicação, preciso me comunicar, vou pra festa! Sou do tipo que acredita que as melhores aulas são fora da sala. Observar os outros. Realmente acredito, mas acabo bebendo e esquecendo tudo no dia seguinte. Isso soou meio alcoólatra, não sou alcoólatra. Só que já sou distraído naturalmente. Nasci pra distração, esqueço tudo, me perco em meus próprios pensamentos, entendo, repenso, esqueço. Nasci pra distração, do liquido amniótico à amnésia. E essa frase que eu escrevi foi só porque pensei nessa aliteração enquanto fazia o texto e achei que seria interessante botar aqui, antes que eu me esquecesse e esse conjunto de “ams” ficasse perdido pra sempre no imaginário coletivo. Não que a frase seja totalmente deslocada do conjunto da minha vida/do meu texto. Eu sou distraído, sou sim, mas acho que isso não tem muito a ver com a minha intenção inicial, que era fazer um atestado de inútil-que-não-faz-nada-de-relevante-mas-que-se-preocupa-com-isso. A desculpa pra mim mesmo é que fui chamado pra ser dj de uma festa, em que, certamente, não tocarei música indiana. A mesa do meu computador tá cheia de formiga, acho que foi o chocolate que a tia Pompéia deu de presente pra minha mãe, que, aliás, tava sensacional – era durinho por fora, mas, quando mordia, tinha palha italiana dentro – e twittaram mais da festa, tão vindo aqui pra casa esperar pela carona pra Botafogo. Nota mental: não beber vodka porque você esquece e não beber cerveja porque você engorda, nota mental²: uma garrafa de cerveja não faz mal, nota mental³: na verdade não existe uma “nota mental³”, tô achando esse texto um saco, enfim...

domingo, 5 de abril de 2009

, heim?

A maior questão da sociedade pós-moderna: seríamos nós cobrados pelo chama-chama-ninguém-atende?

segunda-feira, 16 de março de 2009

Cidade em PS Cs4 real

Não há nada mais bonito a se apreciar em uma cidade que a sua cor. Olhar do alto e apertar os olhos, balancear os tons e transformá-los em unidade. Cem por cento de gaussian blur. Só que real.

terça-feira, 10 de março de 2009

É meu

Fez dos meus os seus amigos,
não sabe quanto se envolveu,
diz que quer me tirar do seu redor
mas o que não percebe é
que o seu redor é meu.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

As paixões e a sinfonia

Anteontem eu me apaixonei. Mas esse sentimento tão bom que é a paixão está sendo dilacerado pelos berros constantes do filho do porteiro. Caoticamente, não pára de chorar. No prédio em que eu moro, o porteiro vive em um pequeno cômodo, com a esposa e três filhos. Na verdade dois, porque o menino mais velho é de outro. E esse mais velho é o mais simpático. Tudo bem, que ele é o único com idade suficiente pra estabelecer uma conversa (ao ponto de poder ser considerado “simpático”), mas os outros já deviam formar frases, não sei... falar. Mas não falam, só se escondem atrás das pernas do pai e choram. Mais que choram, berram. Por favor, pára!!, mas não conseguem, não param. Lembre-se que me apaixonei anteontem, estou com o humor lá em cima. Me apaixonei foi por um conto do Mário de Andrade. Fazia tempo que não me apaixonava por algo ligado à literatura, e ler “Vestida de Preto” me fez bem. Só quero aproveitar que estou me sentindo bem! (Não que antes eu estivesse me sentindo mal, mas é que não me sinto desse jeito desde que terminei de ler o penúltimo livro do Harry Potter. Na verdade, o último, mas sem contar os capítulos finais.), mas os berros da criança ecoam tão agudos do térreo que nem sei como consigo pensar em Harry Potter nesse momento. Nem sei como consigo pensar em alguma coisa qualquer, como consigo escrever esse texto, presenciando essa combinação ensurdecedora de tons saindo da garganta dessa criança. E o porteiro já recebeu reclamações de uma porção de moradores. Até uma moça do prédio ao lado o mandou dar um jeito nos filhos. E essa moça bem que é parecida com a imagem que vem à minha cabeça quando penso em Maria, uma moça do conto do Mário (de Andrade). Uma espécie de Katharine Ross nos anos 60, só que sem o ar meigo. Ela (, a moça do prédio ao lado, não a Katharine Ross. Nem Maria, ) não me parece moça que chora fácil (se bem que Maria também não me parece que chora fácil. A Katharine Ross não sei.) e, assim como eu, não agüenta mais o choro do filho do porteiro. E hoje eu descobri um outro conto do Mário, que é continuação do tal que me apaixonei anteontem. Na verdade, não é continuação, é como se fosse um apêndice. É uma história paralela, sobre a mesma personagem. Mas nesse outro, a Katharine Ross não é nem citada. Katharine Ross não, Maria. Também me apaixonei. Em menor escala, mas o acúmulo da primeira paixão com essa fez com que eu me sentisse ainda melhor. E descobri mais outros dois contos de continuação. Continuação não, apêndice. Mas o filho mais novo do porteiro parece querer me apunhalar de propósito com os berros que atravessam as janelas fechadas e não me deixam gozar por minhas descobertas. E aí me lembrei novamente dos livros do Harry Potter e dos dementadores, uma criatura que suga a felicidade de quem se aproxima. Esse garoto filho do porteiro é um dementador. Que horror, não posso pensar isso, fiquei até me sentindo culpado e com pena do menino por compará-lo com um dementador. Me senti mal, me senti mau. E, logo depois, ele parou de chorar. Mas foram somente três segundos de silêncio. T-r-ê-s segundos. Três segundos, e ele continuou sua sinfonia abissal, irritantemente abissal, de cordas vocais. Foram três segundos com tanta esperança por um fim, que quando ele se pôs a chorar novamente eu me odiei por ter criado tanta expectativa. Mas odiei ainda mais o garoto, e odiei o seu pai, e Mário de Andrade, e Harry Potter e Katharine Ross. Ouvi minha mãe do seu quarto resmungando um “Ih, soltou a voz de novo” e me arrependi por ter tido pena do moleque. Ele é um dementador sim.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

q.e.o.p.você.

Não sei qual é a cor dos meus olhos e não sei o que responder quando perguntam qual é a cor dos meus olhos e adoraria descobrir qual é a cor dos meus olhos pra saber se é verde ou azul quando eu olho pra você.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Cafuné

A minha mão se inquietou, porque lembro de você. Porque lembro de você, porque lembro de quando você dirige, porque adoro te ver dirigir, principalmente quando usa óculos. A minha mão se inquietou, porque lembro de você usando óculos, porque adoro te ver usando óculos, porque me pergunto como achei alguém com tanto bom-gosto para escolher óculos, e por que você quase não os usa(?), se os momentos em que os usa se tornam tão especiais. Minha mão se inquietou, porque lembro de você, que é tão especial, porque lembro que sorri com o meu sorriso, porque é uma das únicas pessoas que entende as minhas piadas e dispensa explicações. Minha mão se inquietou, porque lembro de você, porque eu sorri, e aí lembrei do seu sorriso enquanto dirige, enquanto usa óculos, enquanto minha mão está inquieta sobre a sua cabeça, fazendo um cafuné.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

tipo roupa

- ando me sentindo amassado.
- como assim?
- amassado tipo roupa.
- então é amarrotado.

domingo, 11 de janeiro de 2009

t.v.c.d.o.f.

Te vi cantando de olhos fechados a música que descreve o que aconteceria em nossas vidas a partir daquele momento em que te vi cantando de olhos fechados e fui falar com você.