sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

As paixões e a sinfonia

Anteontem eu me apaixonei. Mas esse sentimento tão bom que é a paixão está sendo dilacerado pelos berros constantes do filho do porteiro. Caoticamente, não pára de chorar. No prédio em que eu moro, o porteiro vive em um pequeno cômodo, com a esposa e três filhos. Na verdade dois, porque o menino mais velho é de outro. E esse mais velho é o mais simpático. Tudo bem, que ele é o único com idade suficiente pra estabelecer uma conversa (ao ponto de poder ser considerado “simpático”), mas os outros já deviam formar frases, não sei... falar. Mas não falam, só se escondem atrás das pernas do pai e choram. Mais que choram, berram. Por favor, pára!!, mas não conseguem, não param. Lembre-se que me apaixonei anteontem, estou com o humor lá em cima. Me apaixonei foi por um conto do Mário de Andrade. Fazia tempo que não me apaixonava por algo ligado à literatura, e ler “Vestida de Preto” me fez bem. Só quero aproveitar que estou me sentindo bem! (Não que antes eu estivesse me sentindo mal, mas é que não me sinto desse jeito desde que terminei de ler o penúltimo livro do Harry Potter. Na verdade, o último, mas sem contar os capítulos finais.), mas os berros da criança ecoam tão agudos do térreo que nem sei como consigo pensar em Harry Potter nesse momento. Nem sei como consigo pensar em alguma coisa qualquer, como consigo escrever esse texto, presenciando essa combinação ensurdecedora de tons saindo da garganta dessa criança. E o porteiro já recebeu reclamações de uma porção de moradores. Até uma moça do prédio ao lado o mandou dar um jeito nos filhos. E essa moça bem que é parecida com a imagem que vem à minha cabeça quando penso em Maria, uma moça do conto do Mário (de Andrade). Uma espécie de Katharine Ross nos anos 60, só que sem o ar meigo. Ela (, a moça do prédio ao lado, não a Katharine Ross. Nem Maria, ) não me parece moça que chora fácil (se bem que Maria também não me parece que chora fácil. A Katharine Ross não sei.) e, assim como eu, não agüenta mais o choro do filho do porteiro. E hoje eu descobri um outro conto do Mário, que é continuação do tal que me apaixonei anteontem. Na verdade, não é continuação, é como se fosse um apêndice. É uma história paralela, sobre a mesma personagem. Mas nesse outro, a Katharine Ross não é nem citada. Katharine Ross não, Maria. Também me apaixonei. Em menor escala, mas o acúmulo da primeira paixão com essa fez com que eu me sentisse ainda melhor. E descobri mais outros dois contos de continuação. Continuação não, apêndice. Mas o filho mais novo do porteiro parece querer me apunhalar de propósito com os berros que atravessam as janelas fechadas e não me deixam gozar por minhas descobertas. E aí me lembrei novamente dos livros do Harry Potter e dos dementadores, uma criatura que suga a felicidade de quem se aproxima. Esse garoto filho do porteiro é um dementador. Que horror, não posso pensar isso, fiquei até me sentindo culpado e com pena do menino por compará-lo com um dementador. Me senti mal, me senti mau. E, logo depois, ele parou de chorar. Mas foram somente três segundos de silêncio. T-r-ê-s segundos. Três segundos, e ele continuou sua sinfonia abissal, irritantemente abissal, de cordas vocais. Foram três segundos com tanta esperança por um fim, que quando ele se pôs a chorar novamente eu me odiei por ter criado tanta expectativa. Mas odiei ainda mais o garoto, e odiei o seu pai, e Mário de Andrade, e Harry Potter e Katharine Ross. Ouvi minha mãe do seu quarto resmungando um “Ih, soltou a voz de novo” e me arrependi por ter tido pena do moleque. Ele é um dementador sim.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

q.e.o.p.você.

Não sei qual é a cor dos meus olhos e não sei o que responder quando perguntam qual é a cor dos meus olhos e adoraria descobrir qual é a cor dos meus olhos pra saber se é verde ou azul quando eu olho pra você.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Cafuné

A minha mão se inquietou, porque lembro de você. Porque lembro de você, porque lembro de quando você dirige, porque adoro te ver dirigir, principalmente quando usa óculos. A minha mão se inquietou, porque lembro de você usando óculos, porque adoro te ver usando óculos, porque me pergunto como achei alguém com tanto bom-gosto para escolher óculos, e por que você quase não os usa(?), se os momentos em que os usa se tornam tão especiais. Minha mão se inquietou, porque lembro de você, que é tão especial, porque lembro que sorri com o meu sorriso, porque é uma das únicas pessoas que entende as minhas piadas e dispensa explicações. Minha mão se inquietou, porque lembro de você, porque eu sorri, e aí lembrei do seu sorriso enquanto dirige, enquanto usa óculos, enquanto minha mão está inquieta sobre a sua cabeça, fazendo um cafuné.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

tipo roupa

- ando me sentindo amassado.
- como assim?
- amassado tipo roupa.
- então é amarrotado.

domingo, 11 de janeiro de 2009

t.v.c.d.o.f.

Te vi cantando de olhos fechados a música que descreve o que aconteceria em nossas vidas a partir daquele momento em que te vi cantando de olhos fechados e fui falar com você.