sexta-feira, 22 de maio de 2009

A maior perda

Acho que a vida toda eu lamentei pelo que perdia pelo caminho. Há diferentes formas de perder alguma coisa e diferentes maneiras de lamentar por essas perdas. Vou explicar: perder pode ser tomar sumiço, ser roubado, sofrer rejeição, morrer. Você pode perder um aparelho de dente, um casaco da Adidas, o último game da partida de tênis, um amor, um filho. Pois bem, já perdi tudo isso, com exceção de um filho porque não tenho filho nenhum e, se um dia tiver, espero não perder. Mas enfim, me lembro muito bem de quando eu tinha uns nove anos e perdi o aparelho móvel de dente depois de um almoço com a minha família. Eu chorava como se alguém tivesse morrido. Não que eu adorasse usar o aparelho, pelo contrário, eu detestava. Só que com aquela perda, me bateu um desespero que hoje eu considero engraçado, palavra que certamente não era a que eu escolheria pra definir a minha sensação na época. Anos depois foi que descobri como era chorar por perder alguém, e é sacal demais dizer que foi uma experiência muito mais intensa. Foi. Eu tinha recém-completos dezessete anos, e ela se foi horas depois da nossa última conversa no celular. Não tenho dúvidas de que essa foi a minha maior perda, e como eu lamentei! Hoje, considero que, de todas as perdas, a morte é a mais fácil de se lidar. Em todos os outros casos há sempre uma esperançazinha entulhada no fundo da cabeça que te faz acreditar que há chance de recuperar o que foi perdido. O homem que perde todo o dinheiro e deixa sua família na miséria acredita que pode recuperar tudo com o trabalho, ou, se for um preguiçoso, com a ajuda dos outros. Uma mulher apaixonada que o marido abandonou e foi morar com outra (muito mais jovem e mais bonita) continua com a idéia de que o seu homem pode voltar – ele já gostou dela antes, porque não? O dinheiro ainda está aí, o marido ainda está aí – tudo é recuperável enquanto existe, é o que pensamos e é o que nos faz ficar mal. Com a morte, não. A pessoa se vai, não tem volta, o que nos resta é conformação. É um pouco pretensão minha achar que com uns vinte, poucos anos depois da nossa última conversa no celular, sou super conformado com perdas. Mas eu sou pretensioso, me conformo fácil sim. Tem vezes que me considero até um pouco frio demais, inabalável. Aí é que outra vez eu perco aquilo que eu gostava tanto. No ato, o controle escapa e vejo que, de frieza, eu não tenho nada. Daí passa.

Um comentário:

Pedro Rabello disse...

Fato é que ninguém está, de fato, preparado para perdas.