domingo, 18 de novembro de 2012

Volto

Volto às reflexões, volto às palavras.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Piscadela interrompida

Uma coisa que costumava me incomodar era piscar. Sempre perdi brincando de sério, sempre considerei de um mau gosto cumprimentar alguém com piscadela. Até que no filme ótimo que passava na tevê, o garoto piscou o olho direito para a menina depois de um comentário bem-sucedido. Combinou, achei ótimo. Por dias fiquei procurando o momento certo para piscar para alguém, até que a Bárbara lançou um comentário bem-sucedido enquanto eu me ajeitava deitado na canga. Pisquei o olho direito, mas eu estava de óculos escuros.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Adoro gente burra

Eu adoro gente burra. Gente burra adora falar sobre o que não sabe, como se soubesse. Tem gente que reclama. Tem outras que apontam e riem. Conheço uns que ignoram e viram as costas. Eu não. Eu a-do-ro gente burra. Deixo falar o quanto quiser e, com um sorriso no canto da boca, delicio a minha superioridade.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Maria

Maria é uma estudante de arquitetura tímida que insere elementos fálicos em seus projetos. À noite, Maria é puta de luxo por opção, decisão tomada depois que soube que seus três ex-namorados eram gays. Hoje, dois deles namoram. Maria é muito parecida com Sandy, a cantora. Maria também canta, mas sua voz é bem diferente à da Sandy. Maria está apaixonada por um barman chamado Samir. Samir é muito parecido com Gael, o ator. Maria fez uma música de amor para Samir chamada “The nicest thing”. Samir era especialista em drinks inflamáveis. Samir morreu queimado. Maria foi ao enterro e conheceu Heitor. Maria se apaixonou por Heitor. Heitor era namorado de Samir.

ensaio sobre a ansiedade

Às vezes me dá vontade de saber escrever sobre a minha tristeza. Não é que eu ande triste, mas quando ela vem, chega sem aviso. Me pega nu, sem armadura. Bate na cabeça, que reflete na mão.
Mas só o que as minhas mãos conseguem fazer é rabiscar as páginas, esperando impacientes pelo surgimento de uma frase impactante o suficiente para me satisfazer. São rabiscos cardíacos, que acompanham batimentos que dispensam estetoscópio para serem escutados.
Escutei os meus batimentos porque a minha mão se inquietou porque lembrei de você, e de inquieta, não soube mais escrever e segui marcando os batimentos de dentro de mim.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Pensando em você

Cansado do meu nada pra fazer, resolvi pensar e acabei pensando em você. O meu olhar estava fixo no filme ruim que passava na televisão, mas desse filme não captei nada. Minha cabeça deu pra estagnar em você. Pensei, pensei um pouco mais e daí pensei: desinteressante. Mudei de canal.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

A maior perda

Acho que a vida toda eu lamentei pelo que perdia pelo caminho. Há diferentes formas de perder alguma coisa e diferentes maneiras de lamentar por essas perdas. Vou explicar: perder pode ser tomar sumiço, ser roubado, sofrer rejeição, morrer. Você pode perder um aparelho de dente, um casaco da Adidas, o último game da partida de tênis, um amor, um filho. Pois bem, já perdi tudo isso, com exceção de um filho porque não tenho filho nenhum e, se um dia tiver, espero não perder. Mas enfim, me lembro muito bem de quando eu tinha uns nove anos e perdi o aparelho móvel de dente depois de um almoço com a minha família. Eu chorava como se alguém tivesse morrido. Não que eu adorasse usar o aparelho, pelo contrário, eu detestava. Só que com aquela perda, me bateu um desespero que hoje eu considero engraçado, palavra que certamente não era a que eu escolheria pra definir a minha sensação na época. Anos depois foi que descobri como era chorar por perder alguém, e é sacal demais dizer que foi uma experiência muito mais intensa. Foi. Eu tinha recém-completos dezessete anos, e ela se foi horas depois da nossa última conversa no celular. Não tenho dúvidas de que essa foi a minha maior perda, e como eu lamentei! Hoje, considero que, de todas as perdas, a morte é a mais fácil de se lidar. Em todos os outros casos há sempre uma esperançazinha entulhada no fundo da cabeça que te faz acreditar que há chance de recuperar o que foi perdido. O homem que perde todo o dinheiro e deixa sua família na miséria acredita que pode recuperar tudo com o trabalho, ou, se for um preguiçoso, com a ajuda dos outros. Uma mulher apaixonada que o marido abandonou e foi morar com outra (muito mais jovem e mais bonita) continua com a idéia de que o seu homem pode voltar – ele já gostou dela antes, porque não? O dinheiro ainda está aí, o marido ainda está aí – tudo é recuperável enquanto existe, é o que pensamos e é o que nos faz ficar mal. Com a morte, não. A pessoa se vai, não tem volta, o que nos resta é conformação. É um pouco pretensão minha achar que com uns vinte, poucos anos depois da nossa última conversa no celular, sou super conformado com perdas. Mas eu sou pretensioso, me conformo fácil sim. Tem vezes que me considero até um pouco frio demais, inabalável. Aí é que outra vez eu perco aquilo que eu gostava tanto. No ato, o controle escapa e vejo que, de frieza, eu não tenho nada. Daí passa.