Estava deitado na rede da varanda. As páginas do livro se passavam. O sol das cinco coloria de vermelho o que me parecia um raio de alguns centímetros, que, na verdade, eram feitos de milhares de quilômetros. Pôr-do-sol, fim. Fim, começo. Começo, você. As páginas do livro se passavam. O vento batia leve em meu rosto, cortando o calor da tarde. Brisa, agradável. Agradável, prazer. Prazer, você. Lia sobre um homem cego, não, alguns homens cegos. Daí vinham as esposas preocupadas, ladrões, motoristas de táxi, policiais. Todos ficavam cegos. O sol batia leve em meu rosto, brisa agradável, agradável como deitar em rede. Milhares de quilômetros, milhares de cegos, milhares de informações, você. O sol batia em meu olho leve, e tudo ficou branco. Ceguei. Ceguei, pois só penso em você.
domingo, 25 de maio de 2008
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Pai, Papai.
João Miguel me surpreendeu num dia quando, no meio de fonemas incabidos e sem sentido, falou “Papai”. Sua primeira palavra, Papai. Não me agüentei de orgulho. O menino tinha menos de um ano e pronunciou assim mesmo, Papai. No fim da mesma semana escapuliu a segunda palavra de sua boca, Pai, e todos ficaram felizes. Era meu primeiro filho, não tinha muita noção da idade em que as coisas acontecem. Um dia ele chegou da escola quieto demais. Pai, o que é veado? É um animal, meu filho. Semana seguinte a pergunta foi pior, Papai, o que é boquete? Não sabia o que responder, desconversei, e nunca mais tocou no assunto. Dia seguinte fui chamado para conversar com a diretora, mas me aliviei ao saber que era para receber elogios pelo meu filho. Ele era o melhor da turma. Com seis anos ele queria ser astronauta, com sete queria ser aviador, com oito falou bem alto “quero ser médico, igual ao vovô!”, com nove não queria ser nada e com dez sua única certeza era de que casaria com a atriz Suri Homes Cruise, mesmo ela sendo treze anos mais velha. Meu amigo Paulo chegou perto dele de manso. Já decidiu o que você quer ser quando crescer? João Miguel olhou bem no fundo dos olhos de Paulo e, eu adoro cinema e adoro psicologia, mas vou acabar fazendo a mesma coisa que o meu pai. Meu amigo deu uma gargalhada. Mas qual dos dois?
sábado, 17 de maio de 2008
A Zebra e a Girafa
sexta-feira, 16 de maio de 2008
Melhor assim, por enquanto.
Te olhava pelo canto do olho, mas fiquei na minha. Depois de discussão com Pedro, qualquer coisa perto dele aumenta a briga. Eu estava com uns três ou mais amigos que não tinham muito a ver comigo, e, dessa conversa, não me lembro mais uma palavra. Só pensava em te olhar. Pedro não podia me ver olhando demais pra alguém, mas são raras as vezes que te encontro. Encarei o desafio. Movimentei minha cabeça o mínimo que podia para tentar alcançar meus olhos
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Eu sei, não é assim.
Vou abrir um espaço do meu blog pra uma pessoa que escreve muito melhor que eu, Marcelo Camelo, e citar um trecho de "Sentimental".
"Eu só aceito a condição de ter você só pra mim.
Eu sei, não é assim. Mas deixa eu fingir."
quarta-feira, 14 de maio de 2008
Pirata velho
Pirata velho que sou, em muitas terras já pisei. Em cada terra, uma nova paixão, em cada paixão, um novo adeus e em cada adeus, a tripulação mudava.
Pirata velho que sou, nunca acreditei no amor. Pensava que viver era sobreviver, até descobrir que amava o mar. Fui dar meu tesouro ao mar, mas estava precipitado. Naufraguei.
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Perto
Eu gosto do longe. Eu gosto do complicado. Não quero comida na bandeja. Quero cozinhar. Detesto o que se oferece. Quero escolher. Eu quero destrancar o trancado na gaiola, sem usar chaves. Quero ler o livro do topo da estante, lutar boxe sem proteção para os dentes, ir para a guerra sem capacete, entender um filme de olhos vendados. Gosto de trocar pneu sem usar macaco. Eu quero é andar a cavalo no pêlo. Enxergo, mas quero aprender braile. Vivo, mas quero imortalizar. Penso, mas quero sonhar. Enxergo, vivo, penso, mas quero sonhar. Releia o que escrevi e reflita, mas quero sonhar. Eu gosto do longe. E vou longe. Eu quero viajar. Viajar e não voltar. Mas meu destino não é qualquer. Peguei o mapa, olhei, olhei, olhei, olhei, olhei, escolhi. Quero ir pra Bielorrussia e lá ficar. Agora, sonhar é fácil e só me falta agarrar.
......
com mc donalds e café.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
O cheiro
domingo, 4 de maio de 2008
Sujismundo
Como pode o mouse ser tão sujo por baixo? Eu quase nunca o viro de ponta-cabeça, mas quando faço, sempre me assusto com a sujeira engrenhada. É como uma borracha vagabunda, é como meleca depois do Rock in Rio. Meu mouse pad é limpo. A única coisa que toca nele sou eu... é, essa crosta preta quase que adesiva que se esconde por debaixo do meu mouse é fruto de mim. Eu lavo as minhas mãos, eu ando em terras limpas, jogo limpo com minha família, com meus amigos, sempre considerei minha mente limpa, poderia ser limpo, mas sou sujo. Sujo assim como a parte de baixo do meu mouse, que, mesmo sem motivos visíveis pra se sujar, é imundo. Pronto, limpei. Agora, quanto tempo será que demora pra sujeira voltar? Uma semana, um mês, um ano, um minuto... ?
sábado, 3 de maio de 2008
Moleque
Mas meu telefone toca e não atendo. Pois é, não atendo. Para quê me desgastar com um moleque? É sim, moleque. É como sair com meu filho, que, graças a Deus, já se casou. Do que mais posso chamar um solteirão de trinta e poucos anos? Moleque. Fiquei lisonjeada quando soube do seu interesse por mim, mas seria ridículo. Ele tem idade para a minha filha. Não quero, não posso, não faço, não vou fazer o que minha mãe não faria e o que a minha filha reprimiria. Não vou gastar o meu tempo com um desajuizado que só quer se divertir com uma viúva. Me procura todos os dias, quer conversar longo em todas as festas, quer me beijar, quer me tocar, quer me levar para a cama. Não quero, não posso, não farei. Calmante, água. Assim me sinto melhor. Telefone toca de novo, é ele, não atendo. Atendi, alô, telefone da minha filha?, 81884563, está bom, beijos. E desligou. É.
......
obs: não ligue para o número do telefone no texto, por que eu inventei. Não faço idéia de quem é. Preferi escrever um telefone com cara de verdade do que botar um que com certeza não existe (tipo 8888888, ou 81818181). Acho que passa a mensagem melhor e não tira a atenção do texto pra um número bizarro. Enfim, não ligue. (: